Quem tu és

 a photo by yuorme on Flickr.

Moravas em minha casa
Roubavas-me o sono
Ao dividirmos os lençóis
Pairavas sobre meu pensamento
Pois entre nós não havia fala
Tiravas minha fome
E devoravas-me por partes

Eras companheira presente

De desalento
De desafeto
Permanecendo, apenas tu,
Enquanto outros me abandonavam
Teu silêncio pesava sobre a casa
Sobre a alma desgastada

 Conheço-te a vida inteira

Reconheço-te agora
És meu tormento implícito
Que torna explícito
Meu peito vazio
Já não te ignoro mais
Sei quem tu és: solidão 

(Isabela Xavier)

Banquete

Tu me ofereceste um último banquete

De semibeijos amargos

E meio-abraços já frios

Servidos de uma alma vazia

De desejo

A um corpo faminto

Por entrega e amor 

Estes já não mais disponíveis

Em teu cardápio

– Não para mim –

Cheguei voraz

E fui-me ainda mais vazio

Saboreando o gosto azedo

Da tua recusa

 (Isabela Xavier)

a photo by @boetter on Flickr.

Pretensa coincidência

violet walking, a photo by juliusfrumble on Flickr.

Pinto as unhas

Pinto o rosto

Pinto um quadro

Do que desejo

Pinto um retrato 

Do que não será

Arrumo minhas roupas

Arrumo um jeito

De esbarrar em ti

Enfeito meus cabelos

Enfeito as desculpas

Que criei para mim

Convenço-me do certo

Quase desfaço o penteado

Seduzo-me pelo errado

Ajeito os sapatos

Ponho os pés na rua

E tiro os pés do chão

Jogo o cabelo para um lado

Procurando-te pelo outro

Jogo fora o sorriso amarelado

E ergo os ombros

Ergo também os olhos

Agitados de apreensão

Vejo teu rosto na próxima esquina

Aproximo-me rapidamente

Esbarro em ti, pretensa coincidência,

Minhas pernas já enfraquecem

Quando tu enfraqueces o passo

E aperta-me forte em abraço

(Isabela Xavier)

Desatino

Alone again, a photo by knights☠ on Flickr.

Foi grande desatino

Cruzar teu destino

Mas, oh!

Quem poderia desconfiar

Que tu irias me confinar

Ao dissabor

Do desamor?

(Isabela Xavier)

Desfalcado

Alone with my thoughts, walking, a photo by XpatScot on Flickr.

 Pegue a parte que lhe cabe

Do meu coração

Pegue e vá embora

Que é melhor viver desfalcado

Do que conviver 
Com um espaço

Que ninguém preenche

(Isabela Xavier)