domingo, 30 de setembro de 2012

Subitamente triste



Detesto esses momentos em que a solidão chega de mansinho e me rouba a paz outrora tão evidente.
Quando me dou conta, sobressaltada, já sinto instalada a inquietude sem causa.
Percebo me invadir uma angústia insensata que dissipa o contentamento.

São sensações que preciso combater. 
Sei que voltarão, pois na vida a satisfação não tem estabilidade.
Mas preciso lembrar que, obedecendo à mesma inconstância, a tristeza que chega já tem passagem de volta.
Cabe a mim decidir se cancelo sua passagem ou se antecipo o momento de partida.

(Isabela Xavier)

sábado, 29 de setembro de 2012

Chuva é tempo bom

Não entendo a ideia generalizada de preferir invariavelmente o sol à chuva.
Por que o dia chuvoso significa "tempo ruim" e o ensolarado é sinônimo de "tempo bom"?
Ao mesmo tempo em que o brilho do sol energiza e alegra, a chuva pode lavar as mazelas da alma.
A chuva limpa a poeira do que é velho, renovando-o, e abre as portas para o novo.

(Isabela Xavier)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Ao luar




E quando a lua desceu ao mar

Esplêndida em luz e única em beleza

Foi inevitável me deter para admirar 

Logo senti esvair-se a tristeza



Como se houvesse mágica no ar

A angústia foi levada pelo vento

A solidão foi-se embora ao luar

A noite carregou o desalento



Permaneci imóvel, olhando fixamente

Temendo que o momento se acabasse

Que a paz sumisse de repente

E a felicidade de dentro escapasse



Caminhei, lentamente me afastando dali

Gotas de chuva começaram um festim

E sorri, percebendo a dádiva que recebi:


A paz tão desejada viera de dentro de mim
 


(Isabela Xavier)

domingo, 23 de setembro de 2012

Lugares imaginados

Sempre pensei em tantos lugares diferentes
Todos imaginados
Nunca os criei
Foram eles que me visitaram

Há muito tempo me convidaram
E vez ou outra me convidam
Vêm e somem espontaneamente
Sem que eu possa controlar

Gostaria de poder descrevê-los em ricos detalhes
Para transportar para lá quem os lesse
E para que eu os tivesse catalogados e bem definidos
Mas não consigo

Tão repentinamente eles chegam, vão embora
Sem que eu tenha controle sobre a duração do momento
Assim, sou obrigada a conviver com as imagens
E até sensações que tais lugares me transferem
Apenas em minha própria mente

São sempre mundos solitários
Neles não vejo ninguém além de mim
E também não me permitem apreender suas minúcias
Que é para me impossibilitar de descrever
Que é para me manter reclusa em sua solitária construção.

(Isabela Xavier)

sábado, 22 de setembro de 2012

Fim de uma fase.

Escrevi essas impressões hoje no ônibus, a caminho de casa. Não bastava refletir sobre tudo isso, senti necessidade e urgência em deixar os pensamentos tomarem forma e em colocar tais palavras no papel. Talvez eu seja sentimental demais, mas as palavras são sinceras.
     
Então, hoje foi o dia em que me desliguei do estágio. Foi menos dramático do que imaginei: as pessoas se despediram com naturalidade; devido a um problema no ônibus, não percorri o mesmo caminho de todo dia - o que seria uma espécie de despedida da rotina; e, por esse motivo, não passei em frente ao prédio da minha faculdade  o que estaria completamente associado.
     
Mas foi muito mais intenso do que eu esperava: as pessoas, as quais estimo, se despediram com palavras sinceras e significaivas; fiquei menos nervosa do que estava e mais apreensiva e sentimental; durante o caminho novo  o que pareceu até uma metáfora adequada à situação  de volta para casa, refleti sobre tudo que aprendi com essa experiência que chegou ao fim; e lamentei  mas em momento algum me arrependi  mais do que eu imaginaria.
     
Quem disse que trilhar, passageiramente, um caminho errado é algo ruim? Muito menos seria inútil  nem de longe. Foi bom  sim, foi  e foi útil. No caminho do Direito, eu encontrei pessoas especiais  cada uma à sua maneira  e me relacionei com elas de modo diferente. De todas estou levando lembranças e de todas as circunstâncias, aprendizados variados.
     
Importante foi eu ter percebido e assumido que lutei para entrar no Direito mas não gostei do que experimentei. E, mais ainda, ter tido a coragem de, como ouvi dizer uma dessas pessoas especiais, sonhar outro sonho. De abandonar o caminho errado, quando já havia percorrido mais da metade do começo  é claro, a graduação é só o começo , e dar meia-volta para partir em busca do meu verdadeiro rumo.
     
No fim das contas, eu continuo sem a capacidade de me arrepender de alguma coisa que fiz. Às vezes me arrependo, sim, do que deixei de fazer. E, sinceramente, eu só tenho a agradecer à menina de dezessete anos que eu fui e escolheu cursar Direito. E ao próprio Direito por toda a experiência proporcionada. Até porque penso que depois de tudo isso, atingi um nível de maturidade mais adequado para aproveitar melhor a graduação que escolher.
   
Ao longo dessa jornada de três anos, eu mergulhei em profundo auto-conhecimento, em busca de quem eu sou e do que realmente gosto. Com isso, amadureci, evoluí e fiz mais do que me conhecer: me defini, em partes - sem me limitar. Aprendi que há coisas mais valiosas muito além da quantidade de dinheiro que se ganha e que o prazer mais legítimo se sente espontaneamente quando você se entrega e exerce algo que vem de dentro, que condiz com seus ideais e não contraria sua natureza.
     
E agradeço também a todas as pessoas, da faculdade e do estágio, por terem sido tão espontaneamente gentis comigo, só o contato com essas demonstrações de afeto e gentileza já faria tudo ter valido a pena. Todas me ensinaram, conscientemente ou não, lições diferentes. Lições que ou me foram diretamente ditas ou que eu silenciosamente apreendi ao observar pequenos gestos e acontecimentos.
     
Sentirei falta de momentos na faculdade e dos queridos amigos que tive sorte de conhecer. Sentirei falta de momentos no estágio e dos colegas de trabalho que tive sorte de encontrar. Mas é uma saudade positiva e saudável. Como a saudade que eu sinto do meu passado de infância e adolescência: é bom pensar nas lembranças, que guardo com carinho, e sei que tudo valeu a pena. Mas não quero reviver o passado, assim como não me arrependo da decisão de buscar a felicidade e não desejo voltar atrás.
     
Apesar de ter tido uma saudosa infância, eu cresci. Da mesma maneira, eu guardo com carinho toda essa experiência com o Direito, mas amadureci e consegui encontrar meu caminho. Estou feliz, e me sinto livre.

(Isabela Xavier)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Um passo

Um passo é um passo, não importa em que direção é dado.
Avançar não é necessariamente dar um passo à frente,
às vezes dar meia-volta significa evoluir,
e prosseguir adiante é continuar perdendo tempo.

Eu não sei exatamente para onde estou indo,
mas já saí da estrada errada.
Isso já é um avanço.
Retroceder quando o atalho deu no lugar errado
e seguir em frente em busca do rumo certo. 

(Isabela Xavier)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Água e óleo



Hoje eu disse para uma pessoa: “eu e o Direito somos como água e vinho”. Mas depois, ao refletir, percebi que este ditado não exprime com exatidão a realidade do fato. Eis então a analogia apropriada: “eu e o Direito somos como água e óleo”. Nesse caso, o óleo sou eu e o Direito, a água.
    
O óleo não escolhe, ele simplesmente é. O que se segue é a ordem natural das coisas: tanto o óleo quanto a água, por suas naturezas, inevitavelmente não são capazes de se misturar.
   
Eu, o óleo, não escolho. É uma condição. Devido à minha essência, fico a boiar na superfície da água sem conseguir me afundar. Com isso, não há como verdadeiramente me unir às profundezas, às entranhas aquáticas.
   
Já tentei, não nego, me misturar. Agitei água e óleo, sabendo, por conhecimento, experiência e intuição, que ambos nunca se fundiriam. Agitei os dois, em vão. O óleo voltou à superfície, apressado, sem o menor interesse em ir mais fundo. Quando forçado a tentar, não gostou do que sentiu.
   
E não há solução, doa a quem doer, água e óleo não se misturam. Podem entrar em contato, mas suas substâncias não combinam e eles não se unem. Não há escolha, apenas condição. É a (minha) natureza.

(Isabela Xavier)

Tormento dos aflitos


Palavras pensadas, enfim compartilhadas
Emoções sentidas, já bem definidas
Quando os sentimentos foram por fim ditos
Emergiu-se um silêncio que parecia infinito

À espera de palavras pronunciadas
Nenhuma afinal foi encontrada
Mergulhava-se no tormento dos aflitos
Das mazelas do amor não correspondido.

(Isabela Xavier)

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