sábado, 22 de setembro de 2012

Fim de uma fase.

Escrevi essas impressões hoje no ônibus, a caminho de casa. Não bastava refletir sobre tudo isso, senti necessidade e urgência em deixar os pensamentos tomarem forma e em colocar tais palavras no papel. Talvez eu seja sentimental demais, mas as palavras são sinceras.
     
Então, hoje foi o dia em que me desliguei do estágio. Foi menos dramático do que imaginei: as pessoas se despediram com naturalidade; devido a um problema no ônibus, não percorri o mesmo caminho de todo dia - o que seria uma espécie de despedida da rotina; e, por esse motivo, não passei em frente ao prédio da minha faculdade  o que estaria completamente associado.
     
Mas foi muito mais intenso do que eu esperava: as pessoas, as quais estimo, se despediram com palavras sinceras e significaivas; fiquei menos nervosa do que estava e mais apreensiva e sentimental; durante o caminho novo  o que pareceu até uma metáfora adequada à situação  de volta para casa, refleti sobre tudo que aprendi com essa experiência que chegou ao fim; e lamentei  mas em momento algum me arrependi  mais do que eu imaginaria.
     
Quem disse que trilhar, passageiramente, um caminho errado é algo ruim? Muito menos seria inútil  nem de longe. Foi bom  sim, foi  e foi útil. No caminho do Direito, eu encontrei pessoas especiais  cada uma à sua maneira  e me relacionei com elas de modo diferente. De todas estou levando lembranças e de todas as circunstâncias, aprendizados variados.
     
Importante foi eu ter percebido e assumido que lutei para entrar no Direito mas não gostei do que experimentei. E, mais ainda, ter tido a coragem de, como ouvi dizer uma dessas pessoas especiais, sonhar outro sonho. De abandonar o caminho errado, quando já havia percorrido mais da metade do começo  é claro, a graduação é só o começo , e dar meia-volta para partir em busca do meu verdadeiro rumo.
     
No fim das contas, eu continuo sem a capacidade de me arrepender de alguma coisa que fiz. Às vezes me arrependo, sim, do que deixei de fazer. E, sinceramente, eu só tenho a agradecer à menina de dezessete anos que eu fui e escolheu cursar Direito. E ao próprio Direito por toda a experiência proporcionada. Até porque penso que depois de tudo isso, atingi um nível de maturidade mais adequado para aproveitar melhor a graduação que escolher.
   
Ao longo dessa jornada de três anos, eu mergulhei em profundo auto-conhecimento, em busca de quem eu sou e do que realmente gosto. Com isso, amadureci, evoluí e fiz mais do que me conhecer: me defini, em partes - sem me limitar. Aprendi que há coisas mais valiosas muito além da quantidade de dinheiro que se ganha e que o prazer mais legítimo se sente espontaneamente quando você se entrega e exerce algo que vem de dentro, que condiz com seus ideais e não contraria sua natureza.
     
E agradeço também a todas as pessoas, da faculdade e do estágio, por terem sido tão espontaneamente gentis comigo, só o contato com essas demonstrações de afeto e gentileza já faria tudo ter valido a pena. Todas me ensinaram, conscientemente ou não, lições diferentes. Lições que ou me foram diretamente ditas ou que eu silenciosamente apreendi ao observar pequenos gestos e acontecimentos.
     
Sentirei falta de momentos na faculdade e dos queridos amigos que tive sorte de conhecer. Sentirei falta de momentos no estágio e dos colegas de trabalho que tive sorte de encontrar. Mas é uma saudade positiva e saudável. Como a saudade que eu sinto do meu passado de infância e adolescência: é bom pensar nas lembranças, que guardo com carinho, e sei que tudo valeu a pena. Mas não quero reviver o passado, assim como não me arrependo da decisão de buscar a felicidade e não desejo voltar atrás.
     
Apesar de ter tido uma saudosa infância, eu cresci. Da mesma maneira, eu guardo com carinho toda essa experiência com o Direito, mas amadureci e consegui encontrar meu caminho. Estou feliz, e me sinto livre.

(Isabela Xavier)

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